Em Goiânia, 90% dos mananciais estão em situação crítica; engenharia pode contribuir com soluções
Um edifício da capital colocou em prática um projeto de reaproveitamento que pode economizar água potável para mais 300 famílias, sem comprometer os mananciais
Há mais de quatro dias sem água, moradores de 157 bairros de Goiânia vivem o caos nesta semana. Atividades básicas e essenciais como tomar banho e cozinhar estão temporariamente impossibilitadas. Tudo isso, em função do “trabalho de interligação de uma adutora”, segundo concessionária de serviços de saneamento básico em Goiás, a Saneago. O caos que tomou conta da capital e da cidade vizinha, Aparecida de Goiânia, pode ser uma “amostra grátis” do que está por vir, caso a população não reveja hábitos em relação à preservação do meio ambiente e, principalmente, dos mananciais responsáveis pelo abastecimento na Grande Goiânia.
De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), por meio do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), cerca de 90% dos cursos d’água de Goiânia estão em situação crítica. “Apesar do poder público estar realizando ações, implementado leis, as pessoas não têm dado a importância real para a preservação da água. Nós temos bacias, onde tem uma maior concentração de pessoas, sintomas como um paciente que está na UTI”, explica André Amorim, gerente do Cimehgo.
Por isso, a Semana Mundial do Meio Ambiente, enseja a reflexão da população acerca da necessidade de cuidar dos mananciais e fazer o uso consciente da água. Entre os poucos lugares que não sofreram com o desabastecimento estão os usuários do Órion Complex, que conta com um sistema de reutilização de água. Na visão do engenheiro e síndico do edifício, Leopoldo Gouthier, o ideal é que as novas obras, sejam de prédios ou casas, passem a contar com este recurso da engenharia.
Situado na Avenida Portugal com a Avenida Mutirão, em Goiânia, o Órion Complex tem capacidade para captar e armazenar cerca de 35.700 litros de água da chuva ou do líquido que goteja nos drenos dos aparelhos da central de ar-condicionado que atende a 670 salas. Todo o líquido é utilizado na limpeza e irrigação das áreas verdes. De acordo com o engenheiro, Leopoldo Gouthier Thiago Oliveira, os sistemas acarretam em economia e sustentabilidade. “Nós estamos reutilizando uma água que, normalmente, ficaria em desuso. E, após o seu reúso, ela retorna para o lençol freático”, explica o engenheiro.
Para a captação, o Órion Complex usa lajes impermeabilizadas no telhado e direciona a chuva recolhida para os gigantescos tanques. Na época de chuva, explica o engenheiro, os tanques atingem a capacidade máxima de recolhimento. Na seca, as gotas do ar condicionado são as protagonistas. “Ao invés de pingarem no chão ou irem diretamente para o lençol freático através de tubulação, nós a reutilizamos”, explica. De acordo com Leopoldo, a iniciativa deve servir como exemplo para a população. “A água não é potável, então nós a utilizamos para irrigação e limpeza. Mas nós deixamos de consumir água potável, economizando o líquido para as famílias”, diz.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cada família gasta, em média, 116 litros de água por dia. A água economizada do reservatório do Órion, portanto, economiza água potável para 308 famílias.
O gestor da Cimehgo acrescenta que atitudes simples do dia-a-dia, como a reutilização de água, são essenciais para evitar uma crise hídrica ainda mais severa na Grande Goiânia. Ele lembra que, dos 85 cursos d’água, a “grande maioria está sofrendo algum tipo de intervenção seja canalização, lixo ou descarte irregular de resíduos”. E ressalta ainda que a preservação dos afluentes é uma dever coletivo. “A água é um assunto que sempre deve estar em destaque, em debate. A população precisa lembrar que sem água não há vida”, ressalta Amorim.
COMUNICAÇÃO SEM FRONTEIRAS
Raquel Pinho e equipe