Médico nutrólogo Arthur Rocha, proprietário da Clínica Supreme
Retirada da “tarja preta” da terapia hormonal abre nova era de informação, segurança e autonomia para milhões de mulheres
O Food and Drug Administration (FDA) – agência reguladora de saúde dos Estados Unidos – anunciou, em novembro, a retirada do alerta de “tarja preta” da terapia hormonal para menopausa, medida que permaneceu vigente por duas décadas e influenciou protocolos médicos em diversos países.
A decisão se baseia em evidências atualizadas que mostram que o rótulo de risco máximo já não correspondia aos dados científicos, sobretudo para mulheres que iniciam o tratamento antes dos 60 anos ou dentro dos primeiros 10 anos após a menopausa.
Nos anos 2000, interpretações equivocadas das análises preliminares do estudo Women’s Health Initiative (WHI) provocaram medo generalizado e afastaram milhões de mulheres de terapias eficazes para sintomas como ondas de calor, insônia, ressecamento vaginal e alterações cognitivas.
O impacto foi expressivo: as prescrições caíram 80% e a formação médica sobre menopausa praticamente desapareceu das residências, criando gerações de profissionais pouco treinados no tema.
Avanços científicos recentes, porém, redesenharam esse cenário. Estudos atuais associam a terapia hormonal a benefícios significativos, incluindo redução de fraturas ósseas — especialmente relevante frente ao dado de que uma em cada três mulheres acima de 50 anos sofre fraturas por osteoporose.
Pesquisas também indicam menor risco de demência, depressão, ansiedade e melhora do desempenho cognitivo para parte das pacientes.
A revisão do FDA reacendeu o debate global. Para o médico nutrólogo Arthur Rocha, fundador da Supreme Clínica, a retirada da tarja preta corrige um equívoco histórico.
“O FDA está dizendo oficialmente que aquela mensagem de ‘máximo alerta de perigo’ exagerava os riscos quando aplicada de forma genérica para todas as mulheres, especialmente para as mais jovens, recém-menopausadas e bem selecionadas”, afirma.
A terapia hormonal vaginal, usada exclusivamente para sintomas geniturinários, também passou a ser reavaliada, já que não compartilha dos riscos historicamente atribuídos à terapia sistêmica.
Rocha ressalta que o FDA manteve alertas importantes, porém em formato convencional, reconhecendo que os riscos apontados em 2002 não se aplicam de maneira uniforme.
“Não é ‘vale tudo’, mas é um recuo de um rótulo que, por 20 anos, fez muita gente acreditar que terapia hormonal era quase sinônimo de câncer, infarto e demência”, completa.
A decisão se apoia em três pilares:
– reanálises do WHI, que mostram segurança e até benefícios cardiovasculares quando o tratamento é iniciado mais cedo;
– novas formulações, com doses menores e vias transdérmicas, que reduzem riscos antes associados;
– posicionamento de sociedades médicas internacionais, como The Menopause Society e EMAS, que já defendiam a revisão do alerta.
Impactos no Brasil: mais informação, menos estigma
No Brasil, Arthur Rocha prevê mudanças graduais, porém relevantes. Segundo ele, decisões do FDA tendem a influenciar diretrizes globais. “A tarja preta tinha um peso psicológico enorme. Sem ela, muitas mulheres e médicos que estavam travados pelo medo tendem a considerar a terapia hormonal com mais racionalidade.”
Com a atualização, o tema deve ganhar espaço qualificado nos consultórios, estimulando conversas baseadas em evidências e reduzindo o estigma associado à menopausa.
O médico reforça que os principais perfis de benefício incluem mulheres até 60 anos ou dentro de 10 anos do início da menopausa, com sintomas moderados a intensos — como fogachos, insônia, ressecamento vaginal e queda de libido — e sem histórico de condições que contraindiquem o tratamento. Os efeitos positivos vão desde melhora do sono, humor e vida sexual até proteção óssea e impacto na composição corporal.
Apesar do avanço, Rocha lembra que se trata de um tratamento médico. “A retirada da tarja preta tira o rótulo de vilã da terapia hormonal.
Mas continua sendo um tratamento que precisa ser prescrito, monitorado e ajustado conforme exames, histórico e momento de vida.”
Para especialistas, a revisão representa um marco na saúde feminina, capaz de reduzir medo, ampliar acesso e fortalecer a autonomia para que cada mulher, informada e acompanhada por seu médico, escolha a melhor forma de atravessar a menopausa.
Assessoria de Imprensa
Palavra Comunicação