Hoje, quando acordei, fui lavar o rosto e de repente, me olhei no espelho e comecei a me observar. Inclinei a cabeça um pouco para trás, quando percebi uma pequena cicatriz. Olhei para aquele detalhe que eu nem sei quantos anos fazem que está ali.
Para falar a verdade, nem lembro qual idade tinha quando me machuquei e fiz essa marca. A única coisa que me lembro, é que a marca era bem maior. Uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora hoje, latejou louca nas lembranças.
Pois é, a vida da gente, cheia de cicatrizes. Como diz Padre Fábio de Melo, “é o momento de cicatrização.. A reconciliação daquilo que você deseja, com aquilo que você não pode. Cicatrizar é uma necessidade constante”. O tempo vai levando dores e aliviando o peso das mágoas. Cicatrizes de palavras que nos feriram, de silêncios que nos atropelaram, de ausências que nos fizeram chorar.
Cicatrizes de dores físicas, de dores na alma, são sinais que carregamos, dos perrengues da vida, das lutas, dos embates. São marcas da nossa história e o que nos torna únicos. Sou cheia de cicatrizes. Somos. Algumas mais expostas, outras escondidas, mas que de vez em quando as sentimos ou vemos, como foi meu caso hoje. Não diga nunca mais, nem jamais. Nunca mais é muito tempo, jamais, é fruto da profundidade de suas cicatrizes. Para tudo, o tempo é sábio conselheiro, você dorme no mar agitado e acorda sonhando em um veleiro.
O tempo só manda cicatrizes, não faz barulho pela manhã, e nem se esconde na noite escura. Simplesmente reveste a vida com fina armadura, despindo a verdade, que aparece assim, finalmente, nua e crua. O mais importante é que a cicatriz está ali para lembrarmos: estou sobrevivendo às intempéries da vida. As cicatrizes, marcam, você chora, mas sorri em dobro! Ama, e um dia recebe tudo de volta! Sofre, mas aprende. Eram feridas abertas, hoje apenas marcas.
Trago em mim cicatrizes profundas, mas elas nunca me impediram de sorrir e continuar lutando, e o mais, acreditando no amor. Até agradeço cada cicatriz que trago em mim, ajudaram a me construir e reconstruir. Perdoo a vida, as pessoas, que um dia me causaram alguma cicatriz e peço perdão a quem um dia deixei alguma marca dolorosa em alguém. Nossas cicatrizes servem pra nos lembrarmos que o passado foi real. Mas não têm de nos ditar para onde vamos…
Edna Gomes