Melina Lobo (Conselheira de Administração e Advogada)
Neste mundo hiperconectado em que vivemos há um excesso de sons: músicas, vídeos, podcasts, tv, filmes, noticiários, enfim, uma lista infinita. Nossos ouvidos são órgãos abertos! Não podem ser facilmente tampados como os olhos ou a boca, que se fecham em um simples movimento. Daí que eles se viciaram nesse mundo constante de ruídos, nem todos eles interessantes, diga-se de passagem.
Estamos tão distraídos nos excessos de sons que custamos a nos dar conta dessa realidade. Assim, muitas vezes, diante do silêncio, o preenchemos antecipadamente, sem o cuidado de examinar o que ele nos quer dizer.
Sim, o silêncio diz muita coisa… Se tivermos a paciência de suportar seu tempo, sem preenchê-lo na correria de nossos ouvidos acostumados com ruídos constantes, podemos ouvir muito do que não está sendo dito: amores inconfessáveis, dores profundas, amarguras silenciadas, respeito ao interlocutor, admiração, raiva contida, presença usufruída.
Quando se está diante de um silêncio prolongado em um diálogo ou em um grupo de pessoas, basta suportá-lo e contemplar seu poder para escutar o que ele quer dizer.
Foi assim em uma empresa familiar em que o pai já havia transferido a totalidade das quotas sociais para seus três filhos. O pai idoso considerava que tal ato era um presente para os filhos que, na sua ausência, não precisariam fazer inventário e, de fato, o patrimônio era valioso. Os filhos, por sua vez, consideravam que não tinham autonomia nenhuma perante o negócio e os desejos do pai que ainda administrava integralmente a empresa.
Nas reuniões, se instalava um silêncio constrangedor. Um silêncio que gritava alto. Os filhos não se sentiam autorizados a dizer o que realmente queriam e quais eram os seus receios.
A solução, então, foi a realização de encontros individuais, nos quais cada um pudesse manifestar sua vontade e, ao final, se constatou que um deles gostaria de sair da sociedade assim que o pai se ausentasse da administração do negócio, seja pelo falecimento ou pela incapacidade.
Autorizar as pessoas a dizerem o que pensam e o que desejam em um ambiente de segurança pode alterar o rumo de negócios e construir o encontro possível. Auxiliar as pessoas a sustentarem esse lugar de fala pode modificar vidas. Em resumo, primeiro criamos um ambiente de segurança, então a pessoa se sente autorizada a dizer o que pensa e o que quer e passa a existir na relação.
Se não confiamos, não queremos falar, daí o silêncio.
O que acontece hoje é que vivemos uma crise de confiança e não há vínculos, sejam de negócios ou familiares, que se sustentem sem transparência e boa comunicação. Precisamos confiar que o fornecedor fará a entrega do item que compramos, que o consumidor efetuará o pagamento do produto adquirido, que o colaborador realizará a função contratada, que o chefe exercerá a liderança, que o patrão pagará o salário combinado e por aí vai.
A confiança sustenta as relações e o silêncio diz muito do que não queremos ouvir. Perguntas abertas realizadas em um ambiente de segurança podem esclarecer pautas ocultas das reuniões e mudar o rumo da história.
Escrito por: Melina Lobo (Conselheira de Administração e Advogada)
Att,
Johny Cândido
Assessor de imprensa – Jornalista
Registro Profissional nº GO 02807