Como diz Clarice Lispector, nunca a vida foi tão atual como hoje: “Por um triz é o futuro. Tempo para mim significa a desagregação da matéria. O apodrecimento do que é orgânico como se o tempo tivesse como um verme dentro de um fruto e fosse roubando a este fruto toda a sua polpa. O tempo não existe. O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. Ou existe imutável e nele nós transladamos. O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então — para que eu não seja engolida pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa — eu cultivo um certo tédio. Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie”. Eu quero viver muitos minutos num só minuto. Quero me multiplicar para poder abranger até áreas desérticas que dão a ideia de imobilidade eterna. Na eternidade não existe o tempo. Noite e dia são contrários porque o tempo não se divide. De agora em diante o tempo vai ser sempre atual. Hoje é hoje. E amanhã eu vou ter de novo um hoje. Há algo de dor e pungência em viver o hoje. O paroxismo da mais fina e extrema nota de violino insistente. Mas há o viver e o viver anestesia. Morremos a espera, morremos de esperança, morremos de amor, morremos de dor. Atriz e Cantora Bibi Ferreira dizia, viver é morrer um pouquinho a cada dia. O segredo pra lidar bem com isso é querer continuar morrendo por muito tempo e muito tempo ..,
Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer… e morrem sem saber como é viver. Isso é triste! Errar mil vezes e não se arrepender para aprender é igual viver num oceano e morrer de sede.
No entanto, espera-se de quem se pensa tão distinto dos demais alguma compostura e humanidade diante de alguma tragédia. 1Isso nos permite entrever clivagem de classes, de cultura e distinção que poderiam ser reeducadas nesses momentos com a simples etiqueta de ‘ficar calado’ e aprender”. Existe todo um universo além do nosso crivo, relevante, potente e com um poder de transformação muito além do que permitimos admitir. Por mais que façamos algo de relevância, somos criticados? Que sociedade é essa? Estão surgindo robôs divulgando mentiras nas redes sociais, seitas malucas que rezam e cantam o hino nacional para um pneu, marcham e fazem gestos nazistas, são agressivos com quem quer paz e precisa trabalhar. Armas que matam crianças na escola. Uma deputada que sai atrás de um negro com uma pistola em São Paulo e ainda estimula a baderna golpista. Fala desconexa que a terra é quadrada e não redonda. Negação da ciência, dos livros. Muitos pedindo a intervenção militar. Inacreditável. Não me tornei insana, tenho longos intervalos de uma horrível sanidade. Mas está difícil entender este momento. Estamos gradativamente morrendo. Se perdendo em partes, vivendo de escassos, caindo aos pedaços.
O ciclo da vida é muito claro e de forma geral todos nós passamos por ele. Nascemos, vivemos, morremos. O momento que você tem é hoje! Todos os dias algo muito bom é oferecido a nós, porém com a correria do dia a dia ficamos desatentos e nem percebemos, ou pior só damos atenção para as coisas ruins que aconteceram. E a melhor forma de administrar isso é compreendendo a necessidade do momento, a necessidade do hoje. O que HOJE eu preciso fazer? O que HOJE eu tenho que viver? “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.” – Dalai Lama
Uma das trágicas coisas que eu percebo na natureza humana é que todos nós tendemos a adiar o viver. Estamos todos sonhando com um mágico jardim de rosas no horizonte, ao invés de desfrutar das rosas que estão florescendo do lado de fora de nossas janelas hoje. Morrer é nada, passado, mas a vida inclui viver a morte multiplicada – sem o alívio de morrer. Ninguém aprende a viver pela experiência alheia; a vida seria ainda mais triste se, ao começarmos a viver, já soubéssemos que viveríamos apenas para renovar a dor dos que viveram antes. A sociedade é como o ar: necessário para respirar, mas insuficiente para se viver. O mundo precisa de mais amor, empatia e um olhar para a alma. Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido.
Como diz Chico Xavier: O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos. Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos. Portanto, meus amigos leitores, saibamos desfrutar os prazeres do viver que é um bate papo com amigos e toda a revitalização que um bom vinho pode nos proporcionar, funcionando como um legítimo tônico ou elixir do bem viver hoje. Se você chegou até o final deste artigo, abra o seu melhor vinho, pegue uma taça, sirva-o, ligue sua pick-up, dance pela sala e comemore estar vivo. O sol é para as flores o que os sorrisos são para a humanidade.
Edna Gomes – Jornalista