Connect with us

Gastronomia

Gastronomia Afetiva

Publicado

on

Vestida nas cores da meninice, voava tranquila nas asas da inocência. Levada, alcançava a imensidão do quintal que “era só meu”, sentindo os olhos faiscaram e o estômago se assanhar – feito abelha fazendo mel –, no instante exato e bom em que o olfato acordava o apetite com o cheiro bom e puro de temperos crus ou cozidos que minha mãe – e só ela – preparava antes de postar na mesa sua especialidade simples e deliciosa: a carne de panela que, com muito prazer e alguma gula inocente, desmanchava na boca e enfeitiçando a alma da menina curiosa atiçada pela fome saudável. Tinha também a paçoca de carne seca, com toque de bacon, iguaria preparada no pilão de madeira, ferramenta rústica e mágica na qual minha bisavó – e só ela –preparava alimentos dos deuses.

Aquela carne da panela, hoje, me faz recordar as férias longas e livres na fazenda. Lá, o som calmo do barulho poético vinha do berrante chamando a boiada. A meninada bebia da mesma água corrente e limpa, fresquinha. Apesar do mesmo plano, um rio que, tempos depois e adulta, me contou a filosofia nunca ser o mesmo e em lugar algum. O pomar, cheio de fruteiras, deleitava mangueiras pipocadas em flores de primavera que a magia do outono transformava em frutos amarelos e doces. Na cozinha, o cheiro forte da banha de porco dava o tom e tema da comida soberba e agridoce, que a minha mãe preparava – a fogo baixo –no fogão a lenha. Românticos, os cheiros e sabores convidaram, para mais aconchego, a família e quem estivesse mais perto.

O mundo da gastronomia é assim, uma vida forrada por camadas de amor sobrepostas com um naco bom e caro da alma na panela do dia a dia aflito, corrido e que me deixa intrigada. Aí então me pergunto: – Como me apaixonei pela cozinha e com que tempero ela me conquistou? Por qual razão fui gostar de comida que alimenta e conta das culturas muito mais do que da moda –efêmera – que cobre o corpo e veste a alma em elegância?

Quando criança era muito curiosa com as coisas que rodeavam meu mundo, ainda criança, as quais, e, de alguma forma, não compreendia por não conhecer ou conviver ainda. Nos dias de hoje, fazendo jornalismo ou me entregando, na cozinha, sou proativa e isso me faz percorrer com naturalidade e entusiasmo os vários caminhos, incluindo os da culinária – que me trouxeram até aqui – e isso me dá a necessidade de partilhar, dar continuação à memória aliada aos prazeres maiores da vida que são o ato de comer, beber, conversar enquanto a alma honesta se encarrega de cozinhar, ou, ao menos, visitar a cozinha, arena onde se preparam os pratos destinados a comemorar o prazer do convívio à mesma mesa e arena a qual demonstra-se, principalmente, como culinária ou a arte em forma de transmissão cultural com uma pitada enorme do convívio familiar.

Nas minhas viagens ao redor do mundo sempre me interessei mais pelos mercados do que por lojas que expõem nas vitrines os fetiches modernos das grifes internacionais. Quando pisei no chão de Paris, a primeira coisa que fiz foi ir a uma bolangerie para comprar a baguete recheada com queijo brie, devidamente saboreada, acompanhada de um champanhe Moet Chandon. Fiz questão de imitar a menina, agora adulta, e, depois do garboso lanche – sem medo nem compromisso – sentei no meio-fio da esquina, e, assistindo turistas em seu vaivém, iniciei a leitura de um dos romances de Eça de Queiroz – A cidade e as Serras–, verdadeira cozinha romanceada pelo autor que me proporcionou um dos dias mais simples e felizes da vida adulta temperada, ali, com dois ou três toques da menina “quase esquecida” em meio às tarefas diárias exacerbada na pitada de sal do mundo adulto que às vezes destila a alquimia e transforma, por um momento, o doce em amargo.

Voltando ao mundo da culinária, quem é capaz de dizer e sentir através das lembranças boas quais são os cinco gostos básicos que a gustação determina enquanto salgado ou amargo, doce ou azedo ou mesmo o desconhecido umami? Sim, isso mesmo: umami! Básico, reconhecido pelo paladar e encontrado em diversos alimentos como carnes e peixes, queijos e cogumelos, tomates. Um sabor diferenciado que as papilas gustativas simplesmente denominam de “o mais delicioso”.

A arte em equilibrar e combinar ingredientes é base da culinária e foi assim que aprendi a receita em comer e explorar os alimentos, surpreendendo sempre o meu paladar provocado na lida da cozinha. Assim ensino e entendo que combinar ingredientes é a base de tudo e somente desta maneira alcança-se a tão sonhada harmonia dentro da arena capaz de invadir os sentidos: a cozinha!

Na prática comecei a perceber que cozinhar sempre foi mais que uma arte, é um prazer. Cresci entre tachos e panelas a fumegar, dividindo a cozinha da minha mãe com outra muito significante para mim, aquela instalada na pensão da minha avó. Elegante e charmosa, ela se impunha em avental aprumado, com seu ar atarefado ia preenchendo os tabuleiros espalhados na cozinha com quitandas prontas para entrar no forno a lenha e saírem ao ponto, com um toque único de mágica, carinho e sabor.

É muito engraçado e interessante ver como as pessoas, hoje, relativamente tensas, ficam muito mais soltas depois de saborear uma barra de chocolate. Dizem que a barrinha tem poder e alimenta a alma. Eu mesma já me peguei às voltas com a insônia, na madrugada silenciosa e alguns pensamentos tolos que insistiam em me perturbar na lida com uma parte da vida, ou seja, aquele momento, às vésperas de uma grande decisão, turbilhão de ideias e ideais em conflito resolvido em grande parte com um pedaço de chocolate, ah! O tal poder do cacau, rico em proteínas, é um fortalecedor das minhas escolhas e das escolhas do mundo real.

Se há dois mundos que me agradam e completam, são eles: o da literatura e, claro, também a culinária, pois acredito que ler, comer e beber um bom vinho faz parte do meu bem-estar que afeta também, de maneira positiva, as pessoas ao meu redor.

Quais são mesmo os melhores momentos que a vida tem para nos dar que sobressaem àquele ligado à hora da mesa? Entre um bom prato de bacalhau e/ou uma carne assada, um bolo de chocolate acompanhado da taça de champanhe ou vinho, compartilhado em meio a sonhos e promessas, celebrando conquistas e alegrias e mesmo nos momentos íntimos quando dividimos as tristezas. Proust, por exemplo, construiu sua monumental obra Em Busca do Tempo Perdido partindo do ponto de sentir o cheiro e o gosto das madalenas. Muitas são as obras as quais, assim como O Banquete, do filósofo Platão; Madame Bovary, de Flaubert; O Amor nos tempos de Cólera, de Gabriel Garcia Marquez e ainda o mais recente Correções, de Jonathan Franzen, obras as quais contêm em si elementos que traduzem a ligação estreita e histórica entre os prazeres que provocam a comida e a literatura.

Assim, deixo aos leitores uma dica: não importa um livro enorme e sem fim nem se agrada com o banquete pomposo. A culinária lida e praticada, assim como os livros, traz um segredo fundamental: não se deve abusar, tampouco errar, num pequeno segredo que é a dose de sal.

CONTINUE LENDO
CLIQUE PARA COMENTAR

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Gastronomia

Identidade

Publicado

on

A Pousada das Congadas, em Niquelândia será palco de mais um evento cultural com identidade local. Peças em tecido com estampa exclusiva com a marca Josephinas, destacando o “Biscoito Quebrador de flor” serão lançadas durante o “Chá Josephimo” no final da tarde do dia 14 de novembro e disponibilizadas à venda. A iguaria, receita secular faz parte da tradição culinária das famílias e dos festejos como o Festival Gastronômico Josephina’s Comida de Tradição, realizado pela Associação Comercial e Industrial de Niquelândia, no mês de setembro.

CONTINUE LENDO

Gastronomia

Celebração de quatro anos do Tatu Bola Goiânia reúne música e diversão com influenciadores

Publicado

on

Consolidado e o queridinho dos goianos, o Tatu Bola Goiânia celebrou seu 4º aniversário na cidade no último final de semana. O evento foi um sucesso, reunindo diversão, música de qualidade e experiências gastronômicas únicas, contando com a presença de influenciadores e da imprensa, o que garantiu ainda mais visibilidade e destaque à celebração.

O Tatu Bola Goiânia segue o estilo das outras casas da rede, apostando em um ambiente rústico com decoração tipicamente brasileira, incluindo fitinhas do Bonfim penduradas no teto, música ao vivo diariamente, além de uma gastronomia e carta de drinks que priorizam ingredientes e receitas nacionais — um sucesso entre o público.

O bar oferece um ambiente aconchegante e convidativo, ideal para almoço, happy hour ou encontro entre amigos e família, proporcionando tudo aquilo que o goiano gosta, em um só lugar.

Confira a programação completa desta semana que tem feriado no Tatu :

Dia 14/11:  Gustavo Rocha (Sertanejo)

Dia 15/11 – Allan Dias / Flávia Ventura (Sertanejo + Brasilidades)

Dia 16/11 – Erik Ribeiro /Montana e Rafael ( Pagode e Samba, Sertanejo, Ritmos Variados)

Dia 17/11 – Maluê/Igor Brenaz (Vamo de Pagogyn) 

TARG COMUNICAÇÃO 
@targcomunicacao

CONTINUE LENDO

Gastronomia

Ceia de Natal:

Publicado

on

Chef de cozinha monta cardápio de inspiração para a data

Pensando em quem procura por agilidade e facilidade, Pedro Ernesto montou um menu especial com entradas, pratos principais e sobremesas; Os pedidos poderão ser realizados até o dia 20 de setembro

Com a aproximação do final do ano, os preparativos para as festividades dessa época se intensificam. Selecionar o menu para a ceia de Natal é um dos momentos mais aguardados do ano, é a oportunidade ideal para saborear aqueles pratos típicos que só aparecem nessa temporada festiva, como o peru assado, o lombo de porco, o tender e o pernil.

A ceia costuma ser realizada no dia 24 de dezembro, em celebração ao nascimento de Jesus Cristo. Até hoje, a ceia natalina é repleta de abundância em alimentos e bebidas. Essa tradição se espalhou pelo mundo, e cada lugar possui suas próprias particularidades quanto aos pratos servidos.

Muitas pessoas começam a planejar o cardápio logo no início de dezembro, pensando em opções de entradas e pratos principais para receber a família.  Pensando nisso, o chef de cozinha Pedro Ernesto montou um cardápio especial com entradas, pratos principais e sobremesas, para quem procura por facilidade, agilidade e que não quer ir para a cozinha no dia da Ceia.

Os pedidos poderão ser realizados até o dia 20 de setembro. As encomendas podem ser feitas pelo WhatsApp: (062) 99332-9917 e as entregas por meio de retirada na Casa Serafim, das 16h às 18h.

Pedro Ernesto é também professor de gastronomia no IGA (Instituto Gastronômico das Américas), autor do projeto Dieta do Pote (@dietadopote) e proprietário de um buffet que leva seu nome (@chefpedroernesto).

Cardápio da Ceia de Natal

Rocambole de Lombo Suíno fatiado

(Recheado com cenoura, mussarela, uva passa e acompanha geleia de cupuaçu)

250g: R$ 64,90

500g: R$ 99,90

1kg: R$ 169,90

Bacalhoada

(Azeitonas pretas, pimentões coloridos e batatinha bolinha)

250g: R$ 89,90

500g: R$ 154,90

1kg: R$ 214,90

Farofa Natalina

(Bacon, Ameixa, Linguiça)

250g: R$ 34,90

500g: R$ 54,90

1kg: R$ 84,90

Peito de Frango ao Creme de Gorgonzola

250g: R$ 64,90

500g: R$ 99,90

1kg: R$ 159,90

Frango Desossado

(Recheado com farofa natalina de frutas secas)

R$ 179,90

Arroz com Amêndoas Laminadas

250g: R$ 34,90

500g: R$ 54,90

1kg: R$ 84,90

Filé Mignon ao Molho de Mostarda Dijon

250g: R$ 74,90

500g: R$ 149,90

1kg: R$ 194,90

Escondidinho de Bacalhau com Mandioca

250g: R$ 75,00

500g: R$ 135,00

1kg: R$ 194,90

Sobremesas

Pudim de Panetone

R$ 99,90

Palha Italiana de Chocolate com Castanhas

250g: R$ 54,90

500g: R$ 74,90

1kg: R$ 119,90

Palha Italiana de Limão Siciliano

250g: R$ 54,90

500g: R$ 74,90

1kg: R$ 119,90


Johny Cândido

Assessor de imprensa – Jornalista 

CONTINUE LENDO
Advertisement

noticias