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O vinho é o alimento da vida

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A degustação de um vinho vai muito além do ato de senti-lo na boca, dançando com a língua. Apreciar implica entrega e deleite. Degustar é um ritual praticado sob a empatia gole-a-gole, bem sutil que estimula nossa sensibilidade, incitando-nos a alçar voos à imaginação afora, onde o vinho permeia a própria sensualidade humana. O vinho da sedução tempera o encanto, umedece o amor. O melhor é prová-lo, com calma e paz.  Como sempre, a delícia não é pela variedade, mas, como nos vinhos, aquela uva especial que sempre lhe despertou o maior dos desejos.

Vinho e boca se encantam com as ricas descrições dos aromas da bebida e que sucumbem ao fascínio de navegar pelas diversas nuances gustativas deste complexo néctar de Baco. Vinho é feito para ser bebido, não para guardar. Um amigo, guardava os melhores rótulos. Ele foi morto pela Covid-19. Viúvo, sem filhos, a família distribuiu e beberam todos os seus vinhos com muita deselegância. Lição: nunca espere. 

A bebida de baco, mais do que qualquer tanino, qualquer uva ou qualquer barril de carvalho, o vinho nos preenche quando há um vazio no peito ou transborda quando a alma já está completa. Ele é o “sabor”, qualidade dos taninos, acidez, equilíbrio, profundidade e persistência. Uma característica atraente do serviço de vinhos (que não encontramos nas outras bebidas) é o seu ritual – da escolha da taça à abertura da garrafa, da primeira prova para ver se está bom, seguindo-se a maneira delicada de derramar o líquido até no máximo a metade da taça.

O vinho desfila pela passarela pelo visual, além do olfato a percepção do seu perfume e do paladar o amor. O vinho evolui em ritmo lento e repouso interno. Ele não foi feito para pessoas sem a menor sensibilidade, que despeja o vinho num recipiente qualquer e sorve-o num glu-glu automático, como se fosse uma bebida sem alma. Com certeza é egoísta  um cavalgador solitário que não presta atenção à sua companheira que, coitada, não teria o prazer de curtir o momento com charme. 

O vinho e a sensualidade seguem sempre unidos, como no intrincado jogo amoroso, no qual existe sempre um ritual a ser cumprido a dois. Um dos momentos mais importantes do relacionamento homem-mulher está justamente no despertar do interesse, nos olhares furtivos, roubados, num jogo malicioso que desemboca numa crescente atração. É justamente assim que começa a degustação de vinhos: um flerte inicial de avaliação visual. Com o cálice de vinho à frente, mergulhamos num jogo sensorial de descobertas a cor, brilho, detalhes que vão enchendo os olhos, a boca com uma gulosa boca sedenta de amor. A clareza da tonalidade de um vinho – onde se descobre se ele é jovem, maduro e envelhecido. Numa análise cultural, os vinhos brancos evocam o sol e inspiram alegria e calor, simbolizam a tropicalidade e a fertilidade feminina. Os tintos a cor do sangue de Cristo, da provocação nas touradas, da maçã do paraíso, da paixão, do coração, do amor pimenta. Como disse Goethe, “as cores são ações e paixões da luz”. Portanto, podem-se obter cores diferentes e igualmente belas, degustando- se à luz do dia ou de velas. Numa fase de maior intimidade, o nariz prevê delícias, aproxima-nos daquilo cuja profundidade queremos alcançar. Que homem não se sentiu atraído, envolvido pelo mistério das insinuações de um cheiro feminino, do aroma de um vinho? Algumas pessoas têm sua sensibilidade atraída pelo aroma adocicado, outras pelo perfume de flor, outros pelo cheiro da pele. O nariz é sensual.

Os mil e um aromas, identificados no íntimo de nossas lembranças evocam relações secretas que correspondem a um secreto buquê. Um gole pausado e generoso traz finalmente o esperado gozo, que inunda nosso corpo com um prazeroso calor. Desta vez você irá erguê-la para um brinde e seu contato visual será mais olho no olho do parceiro  adicionando um leve sorriso. A visualização será mental. Só imagine…

Embora a sensualidade original tenha supostamente se perdido na fábula da maçã proibida e nos conselhos maldosos da serpente, se imagine no Paraíso. Libere a imaginação e inspire. Os aromas evoluíram à medida que você os aprecia, pois seus diversos componentes se volatilizam em tempos diferentes. Associe aromas nas sensações boas que você conhece – como um abraço prolongado.

Ao colocar o vinho na boca, primeiramente ele deve ser mastigado, deixando que afunde a língua para que a bebida passe pelo palato e você possa sentir suas características, como corpo, consistência e maciez. Ao ingerir o primeiro gole, você terá a confirmação de tudo que já sentiu – da sensação de doçura percebida na ponta da língua à acidez. As nuances de aromas se transformam à medida que apreciamos o líquido, sentindo-o em toda sua extensão, a consistência, fluidez e temperatura – é como um beijo roubado. Distribua suas emoções num prazer crescente – como aquela relação inesquecível.

É graças à complexidade do nosso paladar que o sabor de um vinho pode ser tão fascinante. Toda taça de vinho tem um segredo que nunca conseguimos decifrar. Continue tentando. Vale lembrar que sabor é um conjunto de informações sensoriais que são produzidas em toda a boca, formado a partir da percepção gustativa, olfativa e tátil, chamada de sensibilidade.

Uma taça de vinho tinto, e a gente já tem o pretexto perfeito para agir por instinto. Se temos uma certeza, é das respostas que o tempo nos deixou. Pare aqui, segura sua taça com vinho, dança uma música com alguém. Esqueça o mundo e entrelace na madrugada até o novo dia chegar.

Jornalista Edna Gomes

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Viver…

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Não quero ser melhor que os outros, apenas quero ser sempre melhor do que eu mesmo. Assim estarei me superando. Você tem o direito de falar o que pensa, Mas não tem o direito de julgar quem não conhece Liberdade de expressão é um direito de todos, mas não lhe dá o direito de inventar histórias sobre o outro. Eu posso ser bem melhor do que sou, preciso ser. Posso dar bem mais, ser bem mais.  É sempre nossa exigência. Esquecemos que somos humanos com erros e acertos. ERRAMOS!!!

O amor verdadeiro deveria ter perdão para todas as vidas, menos para as vidas sem amor e sem educação. Gratidão deve vir antes de tudo e o agradecimento acompanhado do abraço apertado de acolhimento. Temos sim, o direito de sentir as tristezas, lamúrias, mas não nos dá o direito de carregar as sombras. Precisamos da luz, vitamina D e humor. Isso nos trás a paz nos céus azuis, e somos nós que devemos sentir o palco da vida com holofote.

Faço o meu caminho, pisando no chão que me é exposto. E não me venham com histórias penosas, telefone sem fio da vida do outro, de fracassos, e energia ruim, detesto-as. Tenho tentado seguir em frente e procurar outras paisagens. As vezes, me exausto da vida. Me dou este direto de vez em quando. Mas não posso me dar o luxo de parar o ponteiro do relógio. 

Se quiser me acompanhar, tem assento vago, só lembrando que a viagem não sai de nenhuma estação, e nenhuma zona de guerra, nem da zona de conforto porque não é interessante passar a vida desconfortável. Com sonhos que morrem. Viaje comigo sem controle remoto, seja suave no caminho e o foda-se engatilhado.

Jornalista Edna Gomes

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Pianista Virgínia Hogan 

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O maestro gesticula Mozart enquanto a pianista, com toda sua delicadeza, se debruça sobre o piano para arrancar suas notas. Em um jantar no Rio de Janeiro, conheci a musicista Virginia Hogan. Uma mulher delicada, bonita, cheia de charme com um sorriso único, dedilhava seu carisma para sua platéia. Todos conectados, o universo estava naquele palco ao som de seu piano, eu fechei meus olhos e pude ouvir a poesia do mundo. E foi ali que eu nasci de novo. Um piano, a pianista é tudo tão mágico. Assim como ela, eu também escorregava as mãos sobre a vida. Tentava com persistência e coragem encontrar o ponto de começo ou, ao menos, a ponta do fio que desenrolava todo o resto. A mim me encantava que a primeira nota do soneto fosse a primeira consoante do que a força que seu dom musical me causava, eu queria escutar cada estrofe, o ritmo de suas mãos do teclado do piano. Ela toca mil sinfonias de poemas que não fizeram do tempo um inimigo que  apagasse dos seus sonhos. E era assim, na agilidade como pianista, que ela bombardeia o coração de todos. A platéia escutava no silêncio do céu. Usava a poesia de seu piano como um caminho para as estrelas, até o afeto da sensibilidade cheio de sinfonia. Contava os versos, os equívocos, a camada fina de tecido que separa o toque dos nossos corações. Cada nota tocada de Virgínia Hogan, eu não consigo pensar em mais nada, somente nos toques suaves de uma excelente pianista. Luzes se acendem, e todo o cenário aparece, e a Virgínia aparece, tocando a melodia de amor e de suas tragédias que permite a movimentação dos seus dedos nos acordes eruditos de seu piano e sua expressão da vida. E o que pode uma mulher quando um deus em seu fascínio a invade, pela alma, com “Beethoven” em seu piano? Virginia nos leva a reflexão.

No show, a pianista estará acompanhada por Boaz Sharon, os maestros Lee Mills e Anderson Alves e receberá a soprano Maria Gerk. Dia 22 no Teatro Municipal do Rio de Janeiro às 19:hs

Jornalista Edna Gomes

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O Mundo tem sentido?

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A primeira vez que ouvi falar no fim do mundo, o mundo para mim não tinha nenhum sentido, ainda; de modo que não me interessava nem o seu começo nem o seu fim. Lembro-me, porém, de estar em um evento e ouvir um grupo de pessoas conversarem sobre alguns assuntos – ⁠⁠a desinformação não se trata da falta de informação apenas mas também da absorção de informações equivocadas. Elas estavam em suas bolhas, porque ou não liam, ou se iludiam a algo que andava pelo universo, responsável pelo acontecimento que eles tanto temiam. Nada daquela conversa se entendia comigo: o mundo era deles, era para eles: o “eu”.

Mas, uma noite, levantei-me da cama, enrolada num lençol, fui à janela para me apresentar à força do universo. Aquela conversa que até então não me interessava nada, que nem vencia a preguiça dos meus olhos pareceu-me, de repente, maravilhoso. Era uma coruja branca, pousada no coqueiro. Era um presságio, que voava pela noite, sozinha, ao meu encontro? Ouvir os presságios daquelas pessoas  – sempre tem um cometa no céu, como há lua, sol, estrelas. Por que as pessoas andam tão estranhas? A mim não me causa medo nenhum. Passou-se muito tempo. Aprendi muitas coisas, entre as quais o suposto sentido do mundo. Não duvido de que o mundo tenha sentido. 

O mundo vai acabar, e certamente saberemos qual era o seu verdadeiro sentido. Por que fomos tão sinceros ou tão hipócritas, tão falsos e tão leais. Por que pensamos tanto em nós mesmos ou só nos outros.  Talvez uma das melhores sensações da vida, não somos impulsionados pela realidade, mas sim por nossa percepção da realidade

Ter a minha própria opinião, meus próprios gostos, não indo na maré da “grande maioria”  ou dos babões de plantão, é reconfortante. Não vou apenas por que você quer que eu vá. Não falo apenas o que você quer ouvir. E assim, vamos construindo o mundo, entendendo e respeitando as pessoas como únicas, cada qual com as suas verdades. 

Edna Gomes

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